sábado, 4 de abril de 2009

Empréstimos para a compra de casa caem para um terço

Os novos empréstimos para a compra de casa estão a cair de forma abrupta. Um reflexo da maior exigência dos bancos na concessão de crédito e da quebra na confiança dos consumidores. A alternativa está a ser arrendar. Em Janeiro, os novos empréstimos para a compra de casa representaram um terço do montante concedido no mesmo período de 2007.

As instituições financeiras emprestaram, em Janeiro, 553 milhões de euros aos particulares para comprarem casa. Este valor corresponde a um terço do montante concedido no mesmo mês de 2008, altura em que os novos empréstimos ascenderam a 1,52 mil milhões de euros, segundo os dados do Banco de Portugal. O valor dos financiamentos realizados em Janeiro é o mais baixo desde o início de 2003, últimos dados disponibilizados nas estatísticas.

A travagem na concessão de empréstimos é geral. O crédito às famílias cresceu a um ritmo anual de 3,6%, o valor mais baixo desde 2004. E compara com os aumentos superiores a 10% verificados no final de 2007 e início de 2008.

São vários os factores que podem justificar esta travagem nos financiamentos. Entre eles, destaca-se o aperto nas condições exigidas pelos bancos para emprestar e uma maior cautela por parte das famílias. Factores que estão a contribuir para um aumento do arrendamento, em detrimento da aquisição de casa.

"Os bancos estão mais exigentes e mais selectivos, e quando aprovam os pedidos de financiamento pedem, muitas vezes, 15% a 20% da avaliação", afirmou ao Negócios Luís Mário Nunes, director-geral da rede imobiliária Comprar Casa. "O consumidor começa a ter uma apetência maior para o arrendamento", diz. Também os proprietários começam "a colocar o seu imóvel no mercado de arrendamento", numa altura em que está a ser mais difícil vender casas.

Segundo os dados da Confidencial Imobiliário, os preços dos imóveis estão em queda. Ricardo Guimarães, director da consultora, revela que o índice de preços das casas está a ter um comportamento de descida desde Setembro. Este é um dos factores que estão a contribuir para que haja "uma maior propensão" para o arrendamento.

"O arrendamento teve um peso de 26%" nos negócios realizados nos últimos dois meses do ano passado, uma evolução que se mantém nestes primeiros meses do ano, afirmou Luís Mário Nunes. Estes números comparam com um peso de 7% a 8%, em 2007. O responsável da Comprar Casa acrescentou que se está assistir ao crescimento de um novo fenómeno: "realização de contratos de arrendamento com opção de compra."

"Há uma retracção das vendas no mercado imobiliário, que se estima que tenha sido na ordem dos 17% em 2008, e que tem como principal razão o decréscimo na concessão de crédito", revela fonte oficial da Remax. Segundo a marca líder na compra e venda de habitação em Portugal, "há claramente uma faixa de consumidores que, por não conseguir aceder ao crédito, ou por não ter conseguido cumprir com as suas obrigações à banca, não tem outro recurso senão recorrer ao arrendamento".

No ano passado, o arrendamento na rede da Remax cresceu 48% face ao ano de 2007.

Publicado em 19 de Março de 2009 por Sara Antunes no Jornal de Negócios

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